Encontrei a resenha do livro: “O estranho caso do cachorro morto” (autor: Mark Haddon)
Boa leitura!
O que a maior parte das crianças parece aprender com os outros desde o
nascimento sem que se imponham dificuldades, e, por isso, nos parecem óbvias, como
brincar com seu grupo, compartilhar interesses e se comunicar habilmente, traz
problemas para um certo grupo de pessoas. Por outro lado, memorizar muitos dados ou
fazer cálculos complexos, características difíceis para a maior parte de nós, podem ser
fáceis para eles. É um representante deste grupo, de indivíduos do espectro autístico, que
é o protagonista do livro: “O estranho caso do cachorro morto”.
O título, que à primeira vista causa estranheza, tem a ver com a situação que
detona o enredo deste delicioso romance policial. O cachorro da vizinha é encontrado
morto, a culpa recai sobre Christopher, adolescente que apresenta características da
Síndrome de Asperger, um tipo leve de autismo. Resolvido este mal entendido,
Christopher resolve bancar o detetive para descobrir o verdadeiro assassino do cachorro,
através de sua forma peculiar de “ler” o mundo, o que torna a narrativa especialmente
interessante. Os capítulos vão mesclando, a partir daí, os passos de sua investigação a
importantes eventos de sua vida, que tendem a convergir à medida que nos aproximamos
do final.
É incrível perceber como o escritor, que não é especialista, mas se preocupou em
fazer estágio em instituições especializadas, conseguiu captar o estilo cognitivo desses
indivíduos, atribuindo ao protagonista características das Desordens do Espectro Autístico
com bastante propriedade. Um ponto que chama a atenção na construção da
personagem é a presença de “ilhas de capacidade”, relacionadas aos interesses restritos,
como a habilidade de memorização e a facilidade com cálculos matemáticos. A falta de
flexibilidade também está presente em todos os comportamentos. A dificuldade na
comunicação verbal e não verbal é igualmente observada em diversas situações no livro,
sendo destacada a pouca compreensão de estruturas não literais. A dificuldade na
interação social, por fim, permeia todo o comportamento de Christopher.
A leitura é fluida e parece despertar o interesse de todos os tipos de leitores.
Apesar de cumprir o papel de divulgar certas características do espectro autístico, o
objetivo maior parece ser de fato o prazer da leitura. Não é por acaso que já fez tanto
sucesso em vários países. Por se tratar de uma ficção, não apresenta um compromisso
científico, pois há liberdade de criação. Mas os cuidados com estes aspectos ficam claros
em algumas descrições do comportamento da personagem principal, nos permitindo viver
um pouco do seu dia a dia. A obra ensina, distrai e nos faz repensar as diferenças.
REDIGIDA POR: Renata Mousinho é professora adjunta da Graduação em Fonoaudiologia da Faculdade de
Medicina da UFRJ. O tema de sua tese de doutorado em Lingüística pela UFRJ foi “Aspectos
Lingüístico-cognitivos da Síndrome de Asperger”, que abordou a dificuldade de compreensão da
linguagem figurada através da Lingüística Sociocognitiv
FONTE:http://www.fonolexus.com.br/upload/cachorro_morto.pdf
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